terça-feira, 13 de março de 2012

DIÁRIO DE BAR: Na trilha do asfalto (Parte 1)


  Olá Veludeiros e Veludettes...

O Diário de Bar da banda Veludo Branco volta no tempo, mais precisamente no final de 2006 para contar o início da história do power trio de blues rock roraimense e relembrar o começo da carreira do grupo, as primeiras composições, formações embrionárias, além de traçar um paralelo interessante de como andava a cena rock local naqueles tempos.


A cena rock de Roraima em 2006 era bem diferente da atual. O cenário era dominado por bandas covers, bandas de proveta, e poucas eram as bandas autorais em atividade. Entre elas, para puxar rápido na memória, Sheep, Klethus, Arroto do Sapo, Mr Jungle e LN3. O Espaço Multicultural do Sesc Centro era o grande templo do rock Roraimense, e o Roraima Sesc Fest Rock o maior festival de rock até então, e o único na verdade que acontecia, chegando a sua segunda edição. Havia poucos lugares para as bandas tocarem, especialmente as autorais. Entre esses picos havia o Porto do Babazinho, a Praça Ayrton Senna, as pistas de Skate e alguns bares e boates que só aceitavam bandas covers se apresentando. Quem aí se lembra do Baba Gula, Lounge Bar, Dunia e a Casa do Rock do 13 de setembro?

Em novembro de 2006 eu, Mr Gonzo, após 2 anos, havia deixado em definitivo a banda Mr Jungle. Estava disposto a montar um novo projeto musical, inspirado no blues. Tinha muitas idéias na cabeça e um projeto antigo engavetado. Havia escolhido o nome do grupo, que foi batizado de “Blues Beer Woman”, mas não encontrava os integrantes para completar a formação. Desisti. Nessa época, Cesar Matuza, liderava bravamente a banda de metal Lepthospirose, hoje já cultuada na cena rock roraimense, que passava pela fase de transição de cover para autoral e mudanças na formação. O encontro etílico entre Eu e Matuza selaria por definitivo nosso futuro musical e mudaria os rumos do nome de Roraima no cenário independente de rock do extremo norte do Brasil. Fato.

Muito diferente do que é hoje, naqueles tempos não havia as famigeradas “panelinhas corporativistas”. A cena rock era orgânica e de certa forma harmoniosa apesar de ainda embrionária e sem uma identidade definida. A convivência entre as pessoas e personagens da cena era pacífica, e as disputas se limitavam apenas a quem agüentava beber mais durante os encontros dos rockers locais para ouvir música, geralmente no estacionamento da praça, ou em frente as boates e bares da cidade. A grana era curta nessa época. Vinho Galioto, light lemon e “polarcita” era o que bebíamos. Ouvíamos muito rock, nas alturas... O repertório variava entre Iron Maiden, Black Sabbath, Metallica, Accept, Motorhead e ACDC, e não havia a moda do happy rock escroto que temos hoje. Camiseta preta de bandas, jeans e all star eram os nossos figurinos. Ainda tenho guardado em casa uma mala com dezenas de camisetas, jeans e acessórios dessa época...


Numa dessas noites descrita acima, Cesar Matuza e Eu conversávamos sobre rock n'roll e bandas. Comentei meu projeto musical com ele, que gostou de imediato. Naquele momento, mais precisamente em frente a boate Baba Gula, bebendo vinho, ouvindo ACDC, escorado no Opala Branco do Matuza, no dia 10 de novembro de 2006 nascia a banda Veludo Branco (que ainda não tinha sido batizada com esse nome). Desde aquele instante, ficou claro para nós dois como nossa nova banda deveria soar: Letras etílicas e sacanas, no estilo das Velhas Virgens e Matanza, um som agressivo como do Black Sabbath e ACDC, e totalmente inspirado no som e visual vintage, dos nossos heróis da década de 60 e 70. Queríamos remar contra a maré, e isso não abriríamos mão.

Recrutei Lucas Fontinelle para o posto de Vocalista. Para relembrar quem é o Lucas, basta recordar que minha primeira banda chamava-se Papa Velhas, que esteve na ativa entre 2001 e 2004, nascida nos corredores da Escola Técnica Federal de Roraima, que abriu caminho para outras bandas que nasceriam por lá também por motivos semelhantes, como a Enigma, Módulo Alpha (que se tornaria Somero) e AltF4. Também convidei o André “Alemão”, que cantava e tocava guitarra na banda Supernova (não confunda com a Supernova dos tempos atuais. Inicialmente o André dividiria as guitarras comigo, mas como não havíamos encontrado um baixista para o primeiro ensaio, ele assumiria provisoriamente essa função.

A 1ª formação da Veludo Branco ficou assim: 

Lucas Fontinelle – Voz
André Alemão – Baixo
Cesar Matuza – Bateria
Mr Gonzo – Guitarra

O primeiro ensaio da banda aconteceu no em março de 2007, na casa do André Alemão. Como decidimos ser uma banda autoral, não perdemos tempo e fomos criar. Uma semana antes do primeiro ensaio, Cesar Matuza me enviou os rabiscos de uma letra com o título “Na Trilha do Asfalto”. Fiz uns ajustes, troquei algumas palavras, coloquei alguns versos, mudamos o título e nascia nossa primeira composição: OPALA BRANCO. Paralelamente esse seria o nome de nossa banda também. 

Nessa época eu me tornara por definitivo um fã incondicional da banda Black Crowes, tanto que tenho até um logotipo deles tatuado na minha costa, e buscava obsessivamente criar minhas músicas na mesma pegada dessa banda. O maior exemplo da influência do Black Crowes no meu modo de tocar guitarra está na harmonia que compus em parceria com meu amigo Diego Moita para a canção “Salvação” da banda Mr Jungle. Eu queria que a Mr Jungle soasse assim. Não aconteceu. Agora era a chance que eu tinha pra fazer nesse projeto o que não consegui no anterior.

Erasmo Carlos disse uma vez que “o dó maior une as pessoas”. Perfeito sua citação, mas eu costumo dizer que o “lá maior é a nota do blues rock”. Quem ouve ACDC sabe do que falo. Quem ouve Veludo Branco também (risos). Compus o riff principal, em lá maior, da música “Opala Branco” totalmente inspirado no Black Crowes. Essa levada funk/rock era minha obsessão. Inserimos uma parte pré – solo com uma pegada progressiva por conta da influência da banda Rush, da qual Cesar Matuza é fã obsessivo do mesmo modo que sou do Black Crowes.

O resultado disso pode ser visto no vídeo a seguir, exclusivo e publicado em primeira mão aqui. Veja como nasceu o maior hit da Veludo Branco, registrado no primeiro ensaio da banda. Ouça como a música soava e compare com a versão final que está em www.palcomp3.com.br/veludobranco. Além desse registro há os bastidores do primeiro ensaio.

Registro do 1º Ensaio da banda Veludo Branco


Infelizmente a química musical não aconteceu com o André Alemão. Decidimos convidar o Armando Bass Pitchula para assumir o posto de baixista do grupo. Os ensaios da banda passaram a acontecer aos sábados, pela manhã, na minha casa. Uma curiosidade: Cesar Matuza usava um kit reduzido de bateria para os ensaios, devido ao barulho. Usava um microfone como pedal de bumbo.

A 2ª formação da Veludo Branco ficou assim: 

Lucas Fontinelle – Voz
Armando Bass – Baixo
Cesar Matuza – Bateria
Mr Gonzo – Guitarra


Também rebatizamos a banda de Opala Branco para Veludo Branco nesse período, mas sobre isso falaremos mais adiante. Foi na varanda da minha casa que compusemos “Veludo Branco Rock N'Roll”, “O Gigolô”, “Eu sou Alcoólatra”, lapidamos “Opala Branco” e resgatamos uma antiga canção que eu compus, chamada “Blues pra te esquecer”. Havia escrito essa canção nos tempos de Papa Velhas, e depois toquei algumas vezes essa canção com a Mr Jungle.

Finalmente a banda começava a trabalhar e criar vorazmente músicas que mais tarde integrariam o repertório do nosso primeiro disco. Em duas semanas tínhamos um repertório suficiente de músicas próprias, 5 no total, para realizar o nosso primeiro show. Um grande amigo nosso, Wander Longhi, faria aniversário no fim daquele mês de março de 2007 e nos convidaria para tocar em sua festa. Seria nossa estréia, e nada melhor que numa festa de amigo, cheio de bebidas, do modo mais underground possível, mas isso fica para outra dose...

Continua...

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito boa essa retrospectiva da banda, com Lucas Fontinelle no vocal, as imagens estão ruins, porém a voz esta muito bacana, foda mesmo.